Crítica | Here Alone (2016)



Aqueles que ficam morrem...


Em um tempo não muito distante produções que envolviam zumbis ou qualquer coisa que trouxesse os mortos de volta a vida eram vistos como algo trash, cujo único objetivo era o entretenimento e que em nenhum momento deveria ser levado a sério, tínhamos algumas raras exceções que focavam em algo mais sério, porém essa visão dramática de um apocalipse zumbi só alcançou sucesso e reconhecimento após a explosão absurda da série The Walking Dead, que não só trazia ação, terror e suspense, pelo contrário, o foco sempre foi e acredito que sempre será os dramas dos personagens e as situações que eles têm que lidar nesse novo mundo. 

Isso de certa forma influenciou diversas produções cinematográficas que foram lançadas até então. Neste contexto somos apresentados a Here Alone, um filme que traz um enredo justamente focado nos dramas dos personagens que são obrigados a viver em um mundo desolado por uma misteriosa infeção viral. Em vez de abordar todo o início da propagação da doença, o roteiro de David Ebeltoft segue mais a frente do caos e nos situa em um mundo já destruído.




Nele acompanhamos a vida de Ann (Lucy Walters) uma sobrevivente do vírus, que acha melhor viver isolada no meio de uma floresta. Sua vida se resume em procurar comida e sempre estar com seus instintos de sobrevivência em alerta. Certo dia ela se depara com dois viajantes precisando de ajuda, a adolescente Olivia (Gina Piersanti) e o seu padrasto Chris (Adam David Thompson). Ann ajuda os dois abrigando-os em seu acampamento. A convivência acaba aproximando o trio que passam a compartilhar entre si as experiências e perdas enfrentadas nesse novo sistema.

Duas coisas devem ser ressaltadas antes que alguém pense em ver o filme. Primeiro, o ritmo é extremamente lento, não é o tipo de história em que os personagens estão toda hora em uma situação de perigo, quase não há mortes e são poucas as sequências que contém um pouco mais de adrenalina. Isso torna o filme ruim? Depende, no meu caso já estava esperando por isso, já tinha na ideia que o longa focaria no drama, e isso meus caros, é muito bem construído pelo roteiro. Um dos pontos altos do enredo é trabalhar toda a questão da rotina de Ann, o diretor consegue retratar isso brilhantemente, para se ter uma ideia, são quase 20 minutos sem que Ann diga uma palavra, isso se não contarmos as cenas de flashback.


Aliás essas sequências que retratam o passado da personagem não é algo deslocado da trama principal, na verdade, são através delas que entendemos Ann, seja na forma de agir, fazer algo ou mesmo na sua decisão de permanecer na floresta, as duas linhas temporais se completam e deixam a trama mais dinâmica e agradável de assistir. Inclusive a introdução de dois personagens ajudam nessa quebra de tensão em que Ann vivia.

O segundo ponto a ser ressaltado são os infectados (no longa não é utilizado nenhum termo para mencioná-los), para ser mais específico, eles só aparecem de fato depois de quase uma hora de filme, o diretor achou melhor só trabalhar com a questão de que eles estão lá, mas não mostrar. Ele prefere utilizar sons e borrões para indicar que os infectados estão próximos e isso é uma jogada espetacular, pois a construção da tensão se torna muito mais eficiente e o suspense de como eles são alimentam nossa curiosidade. 


Não pude deixar de comparar, mas é quase como se estivéssemos assistindo um episódio de The Walking Dead, daqueles focado só no drama. Outra questão que ajuda no resultado final é Lucy Walters, cara!! Já virei fã dessa atriz, ela manda muito bem no papel e é extremamente carismática, o roteiro ajuda muito na questão da empatia com o público. 

Para não dizer que o filme é perfeito, a questão dos infectado me decepcionou um pouco, esperava algo mais difícil de lidar, justamente por terem esperado tanto tempo para mostrá-los, mas não é algo que vá estragar a experiência e a qualidade da produção. O plot envolvendo a Olivia também incomoda, não por ser mal construído, mas por ser deslocado das questões que estamos acostumados a ver. Nem quero falar do final, porque sinceramente fiquei puto da vida com aquilo e me deu mais raiva da personagem.


No geral, Here Alone é um filme extremamente eficiente dentro de sua proposta, é um drama angustiante, tenso e psicologicamente perturbador. É uma produção intimista que retrata de forma mais "pé no chão" o que seria viver sozinho em um mundo dominado por zumbis. Para quem gosta de filmes com uma linha mais dramática vão se deliciar com essa pérola indie. Altamente recomendado.



Título Original: Here Alone

Ano de Lançamento: 2016

Direção: Rod Blackhurst

Elenco: Lucy Walters, Gina Piersanti, Adam David Thompson, Shane West.


Trailer:


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