Crítica | Fragmentado (2017)



Kevin possui 23 personalidades distintas. A 24ª está prestes a ser solta...


Na maioria das vezes diretores que começam a carreira com o pé direito uma hora ou outra entra naquele período conturbado de não agradar o público com alguns trabalhos. Essa fase de desgaste para Shyalaman  começou a dar sinais em 2006 com o contraditório A Dama na Àgua, logo veio os péssimos Fim dos tempos  e O Último Mestre do Ar  e por fim sua última grande bomba o mediano Depois da Terra.

Depois desse longo período de descrédito no qual amargou nas críticas, o diretor deu a volta por cima e em 2015 tornou a mostrar no que realmente é bom com o found footage A Visita sendo considerado pelos críticos o retorno de Shyalaman a suas origens. A Visita de fato traz aquilo que o cineasta sabe fazer, suspense e reviravoltas, no entanto, para mim, sua volta se deu com o excelente Fragmentado, lançado esse ano nos cinemas brasileiros. A narrativa entrega exatamente tudo que esperamos dele e mais um pouco. 



Na trama, Casey (Anya Taylor-Joy), Claire (Haley Lu Richardson) e Marcia (Jessica Sula) são sequestradas por Kevin (James McAvoy) um estranho que possui 23 personalidades distintas que se alternam aleatoriamente. Desesperadas e confusas as garotas descobrem que foram sequestradas para ser oferecidas "A Fera" uma espécie de vigésima quarta personalidade de Kevin ainda desconhecida. Agora o trio de garotas deverá se unir para escapar do cativeiro antes que a tal personalidade resolva se manifestar.

Mais uma vez Shyalaman entrega um uma trama tensa, agoniante e repleta de conceitos interessantes. Trazer um personagem com 23 personalidades poderia gerar uma verdadeira bagunça nas mãos erradas, mas o cineasta trabalha muito bem aquelas que chegam a "luz" (denominação utilizada para a personalidade que está no comando temporariamente), mas outro fator que ajuda na identificação clara de cada um é James McAvoy, cara!! Que atuação, que ator f**da!! McAvoy consegue trazer peculiaridades a cada um deles  o que fica impossível de confundir, claro, o diretor não usa as 23 personalidades, pelas minhas contas foram usadas de 8 a 10 o que é bom, até porque todas não conseguiriam um desenvolvimento bacana em apenas duas horas de filme.



Além do show de atuação de  McAvoy outra que se destaca é Anya Taylor-Joy (A Bruxa), logo de cara já sabemos que sua personagem não é a típica mocinha indefesa, ela é calculista, esperta e sabe agir na hora certa, como não amar!! O desenvolvimento da personagem acontece em duas linhas temporais, no presente e outra no passado mostrando sua infância e a relação com o pai e com o tio, no qual é explorado uma realidade bastante triste, são cenas extremamente necessárias para compreendermos Casey e entendemos seus dramas. As outras garotas acabam ficando para escanteio, não chegam a ser completamente esquecidas, mas não recebem o mesmo destaque de Casey.

Há também o núcleo da Dra. Karen (Betty Buckley) a psicóloga encarregada de acompanhar Kevin. São nesses diálogos que conseguimos entender um pouco mais sobre a condição dele e entender como alternância de personalidades funciona. O roteiro traz um texto afiado, reflexivo e curioso que flerta com a ficção e com o sobrenatural. Já adianto que a narrativa possui uma carga dramática acentuada, mas, mesmo assim o ritmo não cai, claro, o foco ainda é o suspense e a tensão, no entanto, muitos poderão achar a condução arrastada, o que não concordo. 



Shyalaman ainda entrega um terceiro ato glorioso com ótimas perseguições e no qual mais uma vez quem rouba a cena e brilha é McAvoy. Muitos poderão achar exagerado o rumo que as coisas tomam, mas enfim, não é para isso que fomos preparados durante o filme todo? Eu pelo menos não fiquei decepcionado, só acho que o diretor perdeu uma ótima oportunidade de entregar mortes memoráveis, mas não deixa de ser uma ótima conclusão.

SPOILERS - A trama principal não oferece aquela revelação bombástica típica dos filmes de Shyalaman, o plot twist aqui fica por conta da última cena em que há uma participação especial do personagem David Dunn (Bruce Willis) do filme Corpo Fechado (Crítica), ou seja, os dois filmes fazem parte do mesmo universo, pasmem!! O que nos leva a concluir que para entender essa referência é necessário conferir Corpo Fechado (Crítica) antes. Já aviso que uma sequência está sendo desenvolvida cujo nome é Glass, a previsão de lançamento é para 2019 e trará personagens dos dois filmes - FIM DOS SPOILERS


Fragmentado portanto é um excelente filme, cheio de tensão, e personagens interessantes que são muito bem trabalhados, pelo menos os principais. A direção segura de Shyalaman mais uma vez faz toda a diferença, o cara realmente sabe construir cenas tensas e situações angustiantes. As atuações estão impecáveis, McAvoy brilha e entrega uma performance arrasadora, Anya Taylor-Joy não fica para traz e agrada com sua personagem. Enfim, agora é esperar Glass e ver quais serão os rumos depois daquela última cena.


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Título Original: Split

Ano de Lançamento: 2016

Direção: M. Night Shyamalan

Elenco: James McAvoy, Anya Taylor-Joy, Betty Buckley, Haley Lu Richardson, Jessica Sula, Izzie Coffey, Brad William Henke, Sebastian Arcelus, Neal Huff.


Trailer:




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